sábado, 12 de setembro de 2009

QUEM DORME NA AVENIDA NÃO FAZ BRIGA DE TRAVESSEIRO


Bendita é a pessoa
Que dorme na rua
Debaixo do toldo
Usa o rodapé
Como cama
Com mucama
Como mucama

O saco de lata
Como travesseiro
Amassadas, atravessadas
Coca-colas, bhramas, antárticas...
E atlântidas afundadas no sonho de quem
Dorme ao relento da cidade,
Que trata a pedra polida de berço
Que consegue dormir com fome,
De quem não come e não se esquece, porque não dá.

Cata-lata nada ecóloga
Talvez nem saiba quantas
São as vogais
Os trambiques
As poesias
Os planos

Bendita é, a resistente,
Que não conta as horas pela programação da TV de cada dia.

Pão é uma promessa
Da bíblia
De Brasília
Do banco em / im prestável

Bendito é o ouvido de quem dorme ao grunhir
De ratos, de latas, de carros, passos, risos, conversas.

Bendito seja o sonho
Sem plim plim
Sem fashion week
Bendito seja o amanhã
A manhã
A manha
O despertar de quem sofre

E bendita seja a visão do coração,
De quem passa e finge que olha
Vai para casa e aperta o botão,
Pra saber o que vai comprar amanhã.

Reciclados sejam os corações de lata, para que daqui para frente os sonhos não mais machuquem os que dormem de tanto trabalhar.


Tiago.

3 comentários: