quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ao lado do meu apartamento, de frente à minha janela, sobe um prédio.
Vejo pelo menos doze funcionários martelando, pregando, soldando, cortando, carregando,
FAZENDO BARULHO!
Moro no segundo andar, a obra está abaixo de mim neste momento. No meio há um grande guindaste que simboliza o tamanho do futuro prédio. A marca do guindaste é CEU, e ele aguenta 1t. O guindaste também faz barulhlhlho.

Todo os dias sou acordado por aquela maldita máquina de cortar madeira.
Janelas fechadas.
Liguei a TV na tentativa de maquiar o som que vem de fora. Passo por quase dez canais (coisa fina para uma TV aberta de antena comum). Vi e ouvi muitos trechos. Desses dez canais apenas dois não perturbavam meu sentido de audição. Fiquei na dúvida sobre o que me incomodava mais naquele momento: obra ou TV.

Olhei para o lado, direto para minha coleção de discos.
Dizem que disco é coisa antiga, coisa pesada, coisa sem valor.
O que é velho é tão valorizado por uns, e tão maldito para outros.
Mas no disco não me interessa a idade. O que vale é o seu conteúdo, o importante são
aqueles riscos que ele contém.
O LP se chama "analógico" porque reproduz as vibrações da música analogamente
nas vibrações da agulha.
Fiquei com preguiça de colocar um disco no aparelho de tocar...

Levantei, já na intensão de escrever aqui.
Ontem vi um filme do Eduardo Coutinho, chamado Edifício Master.
Ele entrevista moradores de um edifício de vinte e três apartamentos por andar,
no bairro mais populoso do Rio.
Todos tinham particularidades muito diferentes e alguns chegavam ao irreverente.
Uma jovem falou de escrever como válvula de escape. Acho que por isso estou aqui.
Havia também uma velhinha que tocava teclado e só escutava seus vinis. Dizia que a filha reclamava, falava que vinil não se usava mais, e ela defendia mostrando o valor que aquilo tinha para ela.

O que vale? Quanto vale?
Será que a obra se cala se alguém pedir?
Discos são nada, peça abandonada.
Prédios arranham o céu, e nunca param.
Palavras lidas, palavras esquecidas,
de que valem palavras eletrônicas?
Na TV se vê venda nos olhos inteligentes,
vendo pelos olhos mais leves.
Quem manda? Pessoas, idéias, sistema, Deus?
Será que perguntar vale de alguma coisa,
ou só deixa você na dúvida também?

Me desculpe.
Tenho que ir.
Faltam trinta e cinco minutos para eu entrar no meu trabalho,
e já estou atrasado uma hora e meia.
O trtrtrtrânsito me espera lá fora.
Fones de ouvido me acompanham por aqui.